segunda-feira, 23 de junho de 2008

Desafio #10

Filmagens de Equador enchem Chiado esvaziado pelo calor com personagens de Miguel Sousa Tavares

A rua Garrett recuou cem anos. Ontem, o Chiado lisboeta esteve repleto de marinheiros, burgueses, criadas, engraxadores. O que pode não parecer estranho, mas se se juntarem à descrição charrettes, peitilhos, saiotes, chapéus de coco, um pano chroma em frente à entrada dos Armazéns do Chiado e José Eduardo Moniz, talvez cheire a Equador.
Desde as quatro da manhã e até ao pôr-do-sol, 120 figurantes e os actores Filipe Duarte, Lídia Franco, Paulo Pires, Marco Horácio e Sara Salgado filmaram as primeiras cenas passadas em Lisboa da série da TVI inspirada no romance homónimo de Miguel Sousa Tavares.
A ideia é recriar "uma Lisboa grandiosa em 1905", descreve a produtora Teresa Amaral, perante o olhar inquisitivo de dezenas de transeuntes, sobretudo turistas, que tentavam transitar numa Rua Garrett de circulação condicionada graças à autorização da autarquia, negociada há um mês.
Ao final da tarde, o director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, apareceu para conversar com o realizador e produtor André Cerqueira. Sob o sol que drenava a equipa das produtoras NBP e Plano 6, a tónica foi a dimensão do projecto.
"O investimento feito justifica-se, porque queremos fazer o melhor produto alguma vez produzido para televisão", disse Moniz, sem revelar o montante destinado pela TVI e pelo Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual para a produção dos 26 episódios de Equador.
Questionado sobre se esta é mesmo a maior produção feita até hoje para a TV portuguesa, o responsável do canal respondeu: "Tenho a certeza de que é".
Paulo Pires, que interpreta Frederico, o marido de Matilde (Dalila Carmo), amante do protagonista Luís Bernardo (Filipe Duarte), integrou o elenco de Até Amanhã Camaradas (SIC), até aqui apresentada como a mais ambiciosa produção para TV em Portugal. "Este trabalho acabará por ficar para a história da televisão portuguesa", disse Pires aos jornalistas. "Tive a sorte de fazer o Camaradas, que teve bastante investimento. Não vou pôr em causa qual envolveu maior ou menor investimento, porque essa já ficou numa época mais recuada. O que se sente é que estamos a fazer cinema."
Terminado mais um corrupio de figurantes ansiosos por se apanhar fora de campo (de filmagem) e despir os fatos de época trazidos de Espanha ou feitos pela produção, Lídia Franco faz eco da opinião do director da TVI e elogia Edgar Moura (Jaime), "um dos melhores directores de fotografia de cinema", indicando que Equador se está a filmar com "cuidados cinematográficos".
À sua volta, anacronismos momentâneos. Os telemóveis, a troca de umas botas de atacadores por uns chinelos de plástico, a dama que bebe de uma garrafa de água escondida na sua bolsinha de veludo, cansada do sol e do longo dia.
"É uma série de grande envergadura em que os ritmos de gravação nada têm a ver com os das novelas", comenta Moniz. Em Julho, os cerca de 120 actores rumam ao Brasil, para terminar os 26 episódios da série que estreia este ano.

in Jornal Público, 24/06/08